Inicialmente em minha abordagem sobre a bidimensionalidade, o primeiro aspecto a ser apresentado é o desenho, que segundo o dicionário Michaelis1 é “Representação gráfica, por meio de linhas, cores e sombras, de objetos, seres, ideias, sensações etc.”. Como elemento integrante de minha formação e prática profissional o desenho e a bidimensionalidade sempre estiveram presentes influenciando fortemente em minha forma de pensar e criar artisticamente. Segundo Wucios Wong, “O desenho é um processo de criação visual que tem propósito” (1998, p.41).
A linguagem visual é um aspecto fundamental em minha pesquisa, da qual destaco alguns elementos conceituais, que segundo WONG (1998, p.42) “não são visíveis. Não existem na realidade, porém parecem estar presentes.” Iniciando com o ponto em seu aspecto indivisível, que segundo Euclides, “é o que não tem partes, ou o que não tem grandeza alguma”. (COMMANDINO, 1944, p. 4), percebo a complexidade que abrange e materialidade de uma obra partindo do mundo das ideias, de uma linguagem abstrata para expressar o que ainda não tem forma. Segue-se com o deslocamento do ponto, o surgimento da linha, que ao se deslocar em diversas direções pode formar um plano, que ao mover-se em outra direção pode formar um volume.
Estes elementos quando materializados numa superfície como da tela, ou papel, etc., passam a ser visíveis gerando formatos com seus tamanhos, cores e texturas, que ocupam espaço, que “pode ser ocupado ou deixado vazio. Pode ser também plano ou ilusório sugerindo profundidade.” (WONG, 1998, p. 44).
Iniciei minha pesquisa tendo a linha como ponto de partida ocupando os espaços internos do papel, da tela e de áreas da faculdade, ora ocupando os vazios circundantes, ora seguindo para o infinito, tensionando-se em movimentos circulares, sem intenções de formar um limite para gerar um plano, resultando numa forma espiralada a procura de outros espaços em dimensões desconhecidas, infinitivas.
Percebo que em meus trabalhos na Gravura, com seus relevos e espaços negativos, como no Desenho, com seus espaços vazios e superposições, o movimento criou uma organicidade e expandiu o formato do papel, buscando uma fuga para fora dos seus limites. Ao olhar para o branco infinito da tela, tive a sensação de atravessar sua materialidade em busca de outras películas dispostas atrás e através da mesma.
A presença total da luz em minha retina provocou uma invisibilidade quase total, a ponto de me tirar do eixo vertical e provocando uma sensação de desequilíbrio e perda de noção de espaço tridimensional, abrindo possibilidades tanto para caminhos oblíquos, quanto retos, avançando meus limites e criando um espaço virtual transcendente. Segundo Ferreira Gullar (1985, p. 127), “O quadro Branco sobre branco, de Malevitch “é a própria linguagem do pintor, que na ânsia de formular o informulável, ameaça desaparecer no silêncio. Malevitch não pretende fazer pintura geométrica, mas sim uma redução radical de sua aparência”.
Partindo do pressuposto apresentado por Kasimir Malevitch no Manifesto Suprematista, em que defendia a supremacia da sensibilidade independente do meio em que teve origem, para alcançar a expressão pura sem representação, utilizo a figura em questão não com intuito de representatividade, mas como caminho desta busca incessante para captar a experiência da abstração absoluta, ou a ausência da ausência. “Por seu lado, Malevitch, depois de chegar ao Branco sobre branco tem que cumprir a sus própria profecia, de que a pintura se libertaria da tela para realizar-se no espaço.” (GULLAR, 1985, p. 138).
Dando segmento às experimentações, utilizei papéis com texturas e gramaturas diversas, sobrepondo uns aos outros e através de incisões, dobrei e retirei camadas procurando revelar o que está contido no vazio do plano.
Caminhos, 2017
Incisão e sobreposição de papeis em camadas
Papel Kraft 300g sobre papel Opaline 300g
33 x 48 cm
Caminhos, 2017
Incisão e sobreposição de papeis em camadas
Papel Opaline 300g sobre papel Kraft 300g
33 x 48 cm
Caminhos, 2017
Incisão em deslocamento no espaço
Papel Opaline 300g
33 x 48 cm
Caminhos, 2017
Incisão em deslocamento no espaço
Papel Kraft 300g
33 x 48 cm